By João Paulo Petersen *
Researcher, historian, and music critic specialized in Beatles, with many achievements in Brazil and published articles in several countries. I’m 37 years old, quadriplegic disabled, never walked, a wheelchair user. I have dedicated myself to studying Beatles’ life and work, as well as producing historical and critical articles about this aesthetic and socio-anthropological subject since 1989. In 2000, I created the Yellow Submarine site; the first online store specialized in Beatles in Latin America, which had become the biggest online store in its category in a short period of time. Commercializing only sealed-official products, imported from their legitimate sources. The Yellow Submarine site has closed its activities in 2005, unable to bear the competition of piracy and illegitimate downloads, in its multiples ways and processes. Author of dozens of published articles in USA, Japan and Italy. Currently, I have the blog Beatles’ Corner (Esquina dos Beatles in Portuguese).
In May 2011, my childhood dream came true: I went to Paul McCartney’s Concert from the Up and Coming Tour in João Havelange Olympic Stadium (a.k.a. Engenhão) in Rio de Janeiro, my hometown. It was a magnificent spectacle that I’ll keep on my mind and in my heart.
In July 2011, I’d heard about an upcoming concert to dream about: Ringo Starr and his All Starr Band would come to Brazil in November to perform in six capitals, including Rio de Janeiro, for the first time in South America. Immediately, I bought tickets for me and my friend Célio Silva in the Tickets for Fun website. During the online purchase, I was assured by Citibank Hall management, located in Via Parque Mall, that the venue was disabled friendly, with areas and appropriated equipment for the physically handicapped. I’ve waited anxiously for more than three months for that special day to come, when my idol, the drummer of the greatest rock band of all times would perform in my town.
Unfortunately, on November 15th, my friend and I had been through a horror night, a real torture session in the Ringo Starr concert at Citibank Hall. In spite of what they have announced and assured me, Time for Fun, company in charge of Tickets for Fun and responsible for the event production and the management of Citibank Hall, haven’t complied with the expected. Célio and I went through a lot of trouble to overcome the obstacles of a concert hall with no accessibility, no equipment and no adequate space for a wheelchair user.
After being forbidden by the security guard of Via Parque Mall from taking shelter under the marquee to protect myself from the wind and rain that poured down in Rio that afternoon, and consequently getting completely soaked, from head to toe; After being embarrassed and dangerously carried back and forth through the stairs; After being disrespected and ignored by the staff; Ultimately, after being criminally humiliated in every way – they put me in an improvised place, surrounded by a fence. I had no choice but watching the concert through a blocked view from the stage. I was able to see only a third part of it. To sum up this tragedy, in a sadist and terrorist act, the management didn’t allow my friend to stay with me in that designated area, even though he paid a full price ticket. He was supposed to protect me and help me pushing the wheelchair.
This is just one more intolerable and criminal episode from many others that victimize me and every disabled person in the Rio de Janeiro city and in Brazil, where our citizenship rights are often unpunished, ignored or disrespected, with the connivance of the authorities. I’ve notified in details the management of Time for Fun in São Paulo about the savagery that happened with me and all I’ve got was a promise that they would analyze the situation in the future to verify the possibility of refunding the tickets and also a simple, despicable, and innocuous written apology. On the other hand, the only phone number available to contact the management of Via Parque Mall, employer of the security guard who didn’t allow a disabled person to get shelter from the rain, does not work.
Despite the violence that I’ve been through, the Ringo’s concert in Rio de Janeiro was excellent, as it was expected. I’m surely affected by everything that I‘ve been through. It felt like a slap on the face. I’m still very sad and disappointed with the violence and fraud, and the criminal treatment that I got from Time for Fun and from the Via Parque administration. I’ve never been through such an embarrassing and infamous situation in my entire life.
Rio de Janeiro City Hall continues issuing opening permits to concert halls, restaurants, shops, theatres and other establishments, even though the access or fruition of the physically handicapped is denied. Disabled are not welcomed in these places, because they are never taken into consideration or treated as true citizens. These establishments have their activities “legalized “, they are “allowed” to discriminate and punish the disabled in wheelchairs. Actually, the “human disabled” are those owners and the authorities who legitimate these establishments, allowing their absurd, uncouth, deficient and illegal functioning.
These criminal acts, such as the aggression that I’ve suffered at Citibank Hall, deny the free accessibility and the basic and simple rights of citizenship for the wheelchair users. I’ve always denounced those acts to Brazilian Government Agencies that are responsible to enforce compliance with the disabled rights and its inspection, as well as to the private entities, that are supposed to take care of this matter, but nothing seems to cause any effect or consequence.
It is deplorable and unimaginable that in the 21st Century, the United Nations celebrates thirty-six years of the Disability Rights Act in which Brazil is signatory. And we annunciate that our country has a so called “Citizen“ Constitution and so many laws that guarantee the rights of thousands of physically disabled, wheelchair users, which precepts and rules are usually ignored and unfulfilled, in a shameful demonstration of a shattered citizenship.
(*) Researcher, historian and music critic.
http://esquinadosbeatles.blogspot.com/
jpbeatles@gmail.com
22.12.11
23.11.11
CIDADANIA ESMAGADA
Pesquisador musical, especializado em Beatles, com muitas realizações no Brasil e trabalhos publicados em vários países, tenho 37 anos, sou portador de tetraplegia, nunca caminhei, sou cadeirante. Dedico-me ao estudo do universo dos Beatles e à produção de textos históricos e críticos sobre temas deste universo estético e sócio-antropológico desde 1989. Em maio último, realizei um sonho de criança: assisti no Estádio do Engenhão, no Rio, onde vivo, o show de Paul McCartney, da turnê "Up And Coming". Foi um belo espetáculo, que marcou a minha memória e o meu coração.
Em julho último, um novo sol no horizonte: Ringo Starr e sua All Starr Band viriam ao Brasil em novembro para apresentações em seis capitais brasileiras, inclusive o Rio, na sua primeira passagem pela América do Sul. Imediatamente, adquiri ingressos no Portal Tickets for Fun, para mim e um amigo que me acompanharia. Durante a compra de ingressos pela Internet, recebi da empresa e da administração do City Bank Hall, local do show, no Shopping Via Park, a garantia de que a casa dispunha de acesso, área para cadeirantes e outros espaços e equipamentos apropriados aos deficientes físicos. Esperei, ansiosamente, por mais de três meses a chegada do dia especial em que o meu ídolo, o baterista do maior grupo de rock de todos os tempos se apresentaria na minha cidade.
Desgraçadamente, no último dia 15 de novembro, eu e o meu amigo que fomos ao show do Ringo Starr vivemos uma verdadeira noite de horror, uma sessão de torturas, no City Bank Hall. Contrariando tudo o que divulgou, informou e comigo contratou, a Time for Fun, empresa da qual faz parte a Tickets for Fun, e que produziu o evento e “administra” o City Bank Hall – eu e meu amigo tivemos de vencer, com grandes dificuldades, obstáculos de uma casa sem acessibilidade, sem equipamentos nem espaços para o cadeirante se locomover e assistir o espetáculo.
Depois de ser proibido pela segurança do Shopping Via Park de nos abrigarmos, sob uma marquise, da ventania e temporal que surpreenderam o Rio naquele fim de tarde, e ficar totalmente encharcado; depois de, perigosamente e sob constrangimento, ser carregado em escadarias, num vai-e-vem sem fim; de ser desconsiderado e desrespeitado por funcionários; de ser, enfim, criminosamente humilhado de todas as formas – deixaram-me num lugar improvisado, cercado por uma grade, onde, sem alternativas, fui obrigado a assistir ao show parcialmente, com visão de apenas um terço do palco. Para arrematar a tragédia, por uma incrível, terrorista e sádica “ordem da administração” da casa, o amigo que me acompanhava para empurrar a cadeira e me dar segurança, e que pagou uma entrada inteira, não poderia ficar ao meu lado, como era a sua função, mas distante de mim.
Este é mais um intolerável e criminoso episódio de tantos que vitimam a mim e a todos os portadores de necessidades especiais na Cidade do Rio de Janeiro, onde os nossos direitos de cidadão são, rotineira e impunemente, ignorados ou esmagados, com a conivência das autoridades. À direção da Time for Fun em São Paulo, comuniquei detalhadamente as barbaridades, o que serviu apenas para a promessa de um estudo futuro sobre a possibilidade de devolução do valor dos ingressos e um registro seco, inócuo e inconsequente de desculpas. Por outro lado, o único telefone da “administração” do Shopping Via Park, empregador do guarda que alegou não ter ordem para permitir que um cadeirante ficasse sob uma marquise numa tempestade, não funciona.
Apesar de toda a violência que sofri, o show do Ringo no Rio de Janeiro foi excelente, como esperava. É certo que fiquei abalado, me senti esbofeteado e ainda estou muito triste, decepcionado com a violência e a fraude, com o tratamento criminoso que recebi da Time for Fun e da Administração do Via Park. Nunca passei por uma situação tão vexatória, ignominiosa, tão ofensiva e humilhante em toda a minha vida.
A Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro expede normalmente alvarás de funcionamento para casas de espetáculos, restaurantes, lojas, cinemas e outros estabelecimentos, onde são proibidos o acesso, movimentação e fruição de cadeirantes, onde eles são impedidos de ingressar e se movimentar, onde eles não são bem vindos, pois não são considerados cidadãos. Esses estabelecimentos tem as suas atividades “legalizadas”, estão “autorizados a funcionar” e a “legalmente” discriminar e punir os deficientes físicos em suas cadeiras de rodas. Na verdade, “deficientes humanos” são os proprietários dessas empresas e as autoridades que legalizam esses estabelecimentos, autorizam o seu funcionamento defeituoso, canhestro e ilegal.
Tais fatos, criminosos, como este que me agrediram e negam a liberdade de ir e vir e os mais singelos e básicos direitos de cidadania aos cadeirantes, como o ocorrido no City Bank Hall, de responsabilidade da Time for Fun, os tenho denunciado sempre aos órgãos municipais e estaduais responsáveis pelo cumprimento das leis de garantia dos direitos dos deficientes e sua fiscalização, bem como a entidades privadas que se interessam e cuidam do assunto, sem nenhum efeito, sem qualquer consequência.
Tudo isto é deplorável, inimaginável, quando, já no Século XXI, a Organização das Nações Unidas celebra trinta e seis anos da Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes, da qual o Brasil é signatário. E anunciamos que nosso País possui uma Constituição denominada “Cidadã” e tantas leis que proclamam e “garantem” os direitos de milhares de deficientes físicos, cadeirantes, cujos preceitos e ordens são cotidianamente ignorados e não cumpridos, numa vergonhosa demonstração de cidadania esmagada.
Em julho último, um novo sol no horizonte: Ringo Starr e sua All Starr Band viriam ao Brasil em novembro para apresentações em seis capitais brasileiras, inclusive o Rio, na sua primeira passagem pela América do Sul. Imediatamente, adquiri ingressos no Portal Tickets for Fun, para mim e um amigo que me acompanharia. Durante a compra de ingressos pela Internet, recebi da empresa e da administração do City Bank Hall, local do show, no Shopping Via Park, a garantia de que a casa dispunha de acesso, área para cadeirantes e outros espaços e equipamentos apropriados aos deficientes físicos. Esperei, ansiosamente, por mais de três meses a chegada do dia especial em que o meu ídolo, o baterista do maior grupo de rock de todos os tempos se apresentaria na minha cidade.
Desgraçadamente, no último dia 15 de novembro, eu e o meu amigo que fomos ao show do Ringo Starr vivemos uma verdadeira noite de horror, uma sessão de torturas, no City Bank Hall. Contrariando tudo o que divulgou, informou e comigo contratou, a Time for Fun, empresa da qual faz parte a Tickets for Fun, e que produziu o evento e “administra” o City Bank Hall – eu e meu amigo tivemos de vencer, com grandes dificuldades, obstáculos de uma casa sem acessibilidade, sem equipamentos nem espaços para o cadeirante se locomover e assistir o espetáculo.
Depois de ser proibido pela segurança do Shopping Via Park de nos abrigarmos, sob uma marquise, da ventania e temporal que surpreenderam o Rio naquele fim de tarde, e ficar totalmente encharcado; depois de, perigosamente e sob constrangimento, ser carregado em escadarias, num vai-e-vem sem fim; de ser desconsiderado e desrespeitado por funcionários; de ser, enfim, criminosamente humilhado de todas as formas – deixaram-me num lugar improvisado, cercado por uma grade, onde, sem alternativas, fui obrigado a assistir ao show parcialmente, com visão de apenas um terço do palco. Para arrematar a tragédia, por uma incrível, terrorista e sádica “ordem da administração” da casa, o amigo que me acompanhava para empurrar a cadeira e me dar segurança, e que pagou uma entrada inteira, não poderia ficar ao meu lado, como era a sua função, mas distante de mim.
Este é mais um intolerável e criminoso episódio de tantos que vitimam a mim e a todos os portadores de necessidades especiais na Cidade do Rio de Janeiro, onde os nossos direitos de cidadão são, rotineira e impunemente, ignorados ou esmagados, com a conivência das autoridades. À direção da Time for Fun em São Paulo, comuniquei detalhadamente as barbaridades, o que serviu apenas para a promessa de um estudo futuro sobre a possibilidade de devolução do valor dos ingressos e um registro seco, inócuo e inconsequente de desculpas. Por outro lado, o único telefone da “administração” do Shopping Via Park, empregador do guarda que alegou não ter ordem para permitir que um cadeirante ficasse sob uma marquise numa tempestade, não funciona.
Apesar de toda a violência que sofri, o show do Ringo no Rio de Janeiro foi excelente, como esperava. É certo que fiquei abalado, me senti esbofeteado e ainda estou muito triste, decepcionado com a violência e a fraude, com o tratamento criminoso que recebi da Time for Fun e da Administração do Via Park. Nunca passei por uma situação tão vexatória, ignominiosa, tão ofensiva e humilhante em toda a minha vida.
A Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro expede normalmente alvarás de funcionamento para casas de espetáculos, restaurantes, lojas, cinemas e outros estabelecimentos, onde são proibidos o acesso, movimentação e fruição de cadeirantes, onde eles são impedidos de ingressar e se movimentar, onde eles não são bem vindos, pois não são considerados cidadãos. Esses estabelecimentos tem as suas atividades “legalizadas”, estão “autorizados a funcionar” e a “legalmente” discriminar e punir os deficientes físicos em suas cadeiras de rodas. Na verdade, “deficientes humanos” são os proprietários dessas empresas e as autoridades que legalizam esses estabelecimentos, autorizam o seu funcionamento defeituoso, canhestro e ilegal.
Tais fatos, criminosos, como este que me agrediram e negam a liberdade de ir e vir e os mais singelos e básicos direitos de cidadania aos cadeirantes, como o ocorrido no City Bank Hall, de responsabilidade da Time for Fun, os tenho denunciado sempre aos órgãos municipais e estaduais responsáveis pelo cumprimento das leis de garantia dos direitos dos deficientes e sua fiscalização, bem como a entidades privadas que se interessam e cuidam do assunto, sem nenhum efeito, sem qualquer consequência.
Tudo isto é deplorável, inimaginável, quando, já no Século XXI, a Organização das Nações Unidas celebra trinta e seis anos da Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes, da qual o Brasil é signatário. E anunciamos que nosso País possui uma Constituição denominada “Cidadã” e tantas leis que proclamam e “garantem” os direitos de milhares de deficientes físicos, cadeirantes, cujos preceitos e ordens são cotidianamente ignorados e não cumpridos, numa vergonhosa demonstração de cidadania esmagada.
Assinar:
Postagens (Atom)