22.12.11

SHATTERED CITIZENSHIP

By João Paulo Petersen *

Researcher, historian, and music critic specialized in Beatles, with many achievements in Brazil and published articles in several countries. I’m 37 years old, quadriplegic disabled, never walked, a wheelchair user. I have dedicated myself to studying Beatles’ life and work, as well as producing historical and critical articles about this aesthetic and socio-anthropological subject since 1989. In 2000, I created the Yellow Submarine site; the first online store specialized in Beatles in Latin America, which had become the biggest online store in its category in a short period of time. Commercializing only sealed-official products, imported from their legitimate sources. The Yellow Submarine site has closed its activities in 2005, unable to bear the competition of piracy and illegitimate downloads, in its multiples ways and processes. Author of dozens of published articles in USA, Japan and Italy. Currently, I have the blog Beatles’ Corner (Esquina dos Beatles in Portuguese).
In May 2011, my childhood dream came true: I went to Paul McCartney’s Concert from the Up and Coming Tour in João Havelange Olympic Stadium (a.k.a. Engenhão) in Rio de Janeiro, my hometown. It was a magnificent spectacle that I’ll keep on my mind and in my heart.
In July 2011, I’d heard about an upcoming concert to dream about: Ringo Starr and his All Starr Band would come to Brazil in November to perform in six capitals, including Rio de Janeiro, for the first time in South America. Immediately, I bought tickets for me and my friend Célio Silva in the Tickets for Fun website. During the online purchase, I was assured by Citibank Hall management, located in Via Parque Mall, that the venue was disabled friendly, with areas and appropriated equipment for the physically handicapped. I’ve waited anxiously for more than three months for that special day to come, when my idol, the drummer of the greatest rock band of all times would perform in my town.
Unfortunately, on November 15th, my friend and I had been through a horror night, a real torture session in the Ringo Starr concert at Citibank Hall. In spite of what they have announced and assured me, Time for Fun, company in charge of Tickets for Fun and responsible for the event production and the management of Citibank Hall, haven’t complied with the expected. Célio and I went through a lot of trouble to overcome the obstacles of a concert hall with no accessibility, no equipment and no adequate space for a wheelchair user.
After being forbidden by the security guard of Via Parque Mall from taking shelter under the marquee to protect myself from the wind and rain that poured down in Rio that afternoon, and consequently getting completely soaked, from head to toe; After being embarrassed and dangerously carried back and forth through the stairs; After being disrespected and ignored by the staff; Ultimately, after being criminally humiliated in every way – they put me in an improvised place, surrounded by a fence. I had no choice but watching the concert through a blocked view from the stage. I was able to see only a third part of it. To sum up this tragedy, in a sadist and terrorist act, the management didn’t allow my friend to stay with me in that designated area, even though he paid a full price ticket. He was supposed to protect me and help me pushing the wheelchair.
This is just one more intolerable and criminal episode from many others that victimize me and every disabled person in the Rio de Janeiro city and in Brazil, where our citizenship rights are often unpunished, ignored or disrespected, with the connivance of the authorities. I’ve notified in details the management of Time for Fun in São Paulo about the savagery that happened with me and all I’ve got was a promise that they would analyze the situation in the future to verify the possibility of refunding the tickets and also a simple, despicable, and innocuous written apology. On the other hand, the only phone number available to contact the management of Via Parque Mall, employer of the security guard who didn’t allow a disabled person to get shelter from the rain, does not work.
Despite the violence that I’ve been through, the Ringo’s concert in Rio de Janeiro was excellent, as it was expected. I’m surely affected by everything that I‘ve been through. It felt like a slap on the face. I’m still very sad and disappointed with the violence and fraud, and the criminal treatment that I got from Time for Fun and from the Via Parque administration. I’ve never been through such an embarrassing and infamous situation in my entire life.
Rio de Janeiro City Hall continues issuing opening permits to concert halls, restaurants, shops, theatres and other establishments, even though the access or fruition of the physically handicapped is denied. Disabled are not welcomed in these places, because they are never taken into consideration or treated as true citizens. These establishments have their activities “legalized “, they are “allowed” to discriminate and punish the disabled in wheelchairs. Actually, the “human disabled” are those owners and the authorities who legitimate these establishments, allowing their absurd, uncouth, deficient and illegal functioning.
These criminal acts, such as the aggression that I’ve suffered at Citibank Hall, deny the free accessibility and the basic and simple rights of citizenship for the wheelchair users. I’ve always denounced those acts to Brazilian Government Agencies that are responsible to enforce compliance with the disabled rights and its inspection, as well as to the private entities, that are supposed to take care of this matter, but nothing seems to cause any effect or consequence.
It is deplorable and unimaginable that in the 21st Century, the United Nations celebrates thirty-six years of the Disability Rights Act in which Brazil is signatory. And we annunciate that our country has a so called “Citizen“ Constitution and so many laws that guarantee the rights of thousands of physically disabled, wheelchair users, which precepts and rules are usually ignored and unfulfilled, in a shameful demonstration of a shattered citizenship.

(*) Researcher, historian and music critic.

http://esquinadosbeatles.blogspot.com/
jpbeatles@gmail.com

23.11.11

CIDADANIA ESMAGADA

Pesquisador musical, especializado em Beatles, com muitas realizações no Brasil e trabalhos publicados em vários países, tenho 37 anos, sou portador de tetraplegia, nunca caminhei, sou cadeirante. Dedico-me ao estudo do universo dos Beatles e à produção de textos históricos e críticos sobre temas deste universo estético e sócio-antropológico desde 1989. Em maio último, realizei um sonho de criança: assisti no Estádio do Engenhão, no Rio, onde vivo, o show de Paul McCartney, da turnê "Up And Coming". Foi um belo espetáculo, que marcou a minha memória e o meu coração.
Em julho último, um novo sol no horizonte: Ringo Starr e sua All Starr Band viriam ao Brasil em novembro para apresentações em seis capitais brasileiras, inclusive o Rio, na sua primeira passagem pela América do Sul. Imediatamente, adquiri ingressos no Portal Tickets for Fun, para mim e um amigo que me acompanharia. Durante a compra de ingressos pela Internet, recebi da empresa e da administração do City Bank Hall, local do show, no Shopping Via Park, a garantia de que a casa dispunha de acesso, área para cadeirantes e outros espaços e equipamentos apropriados aos deficientes físicos. Esperei, ansiosamente, por mais de três meses a chegada do dia especial em que o meu ídolo, o baterista do maior grupo de rock de todos os tempos se apresentaria na minha cidade.
Desgraçadamente, no último dia 15 de novembro, eu e o meu amigo que fomos ao show do Ringo Starr vivemos uma verdadeira noite de horror, uma sessão de torturas, no City Bank Hall. Contrariando tudo o que divulgou, informou e comigo contratou, a Time for Fun, empresa da qual faz parte a Tickets for Fun, e que produziu o evento e “administra” o City Bank Hall – eu e meu amigo tivemos de vencer, com grandes dificuldades, obstáculos de uma casa sem acessibilidade, sem equipamentos nem espaços para o cadeirante se locomover e assistir o espetáculo.
Depois de ser proibido pela segurança do Shopping Via Park de nos abrigarmos, sob uma marquise, da ventania e temporal que surpreenderam o Rio naquele fim de tarde, e ficar totalmente encharcado; depois de, perigosamente e sob constrangimento, ser carregado em escadarias, num vai-e-vem sem fim; de ser desconsiderado e desrespeitado por funcionários; de ser, enfim, criminosamente humilhado de todas as formas – deixaram-me num lugar improvisado, cercado por uma grade, onde, sem alternativas, fui obrigado a assistir ao show parcialmente, com visão de apenas um terço do palco. Para arrematar a tragédia, por uma incrível, terrorista e sádica “ordem da administração” da casa, o amigo que me acompanhava para empurrar a cadeira e me dar segurança, e que pagou uma entrada inteira, não poderia ficar ao meu lado, como era a sua função, mas distante de mim.
Este é mais um intolerável e criminoso episódio de tantos que vitimam a mim e a todos os portadores de necessidades especiais na Cidade do Rio de Janeiro, onde os nossos direitos de cidadão são, rotineira e impunemente, ignorados ou esmagados, com a conivência das autoridades. À direção da Time for Fun em São Paulo, comuniquei detalhadamente as barbaridades, o que serviu apenas para a promessa de um estudo futuro sobre a possibilidade de devolução do valor dos ingressos e um registro seco, inócuo e inconsequente de desculpas. Por outro lado, o único telefone da “administração” do Shopping Via Park, empregador do guarda que alegou não ter ordem para permitir que um cadeirante ficasse sob uma marquise numa tempestade, não funciona.
Apesar de toda a violência que sofri, o show do Ringo no Rio de Janeiro foi excelente, como esperava. É certo que fiquei abalado, me senti esbofeteado e ainda estou muito triste, decepcionado com a violência e a fraude, com o tratamento criminoso que recebi da Time for Fun e da Administração do Via Park. Nunca passei por uma situação tão vexatória, ignominiosa, tão ofensiva e humilhante em toda a minha vida.
A Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro expede normalmente alvarás de funcionamento para casas de espetáculos, restaurantes, lojas, cinemas e outros estabelecimentos, onde são proibidos o acesso, movimentação e fruição de cadeirantes, onde eles são impedidos de ingressar e se movimentar, onde eles não são bem vindos, pois não são considerados cidadãos. Esses estabelecimentos tem as suas atividades “legalizadas”, estão “autorizados a funcionar” e a “legalmente” discriminar e punir os deficientes físicos em suas cadeiras de rodas. Na verdade, “deficientes humanos” são os proprietários dessas empresas e as autoridades que legalizam esses estabelecimentos, autorizam o seu funcionamento defeituoso, canhestro e ilegal.
Tais fatos, criminosos, como este que me agrediram e negam a liberdade de ir e vir e os mais singelos e básicos direitos de cidadania aos cadeirantes, como o ocorrido no City Bank Hall, de responsabilidade da Time for Fun, os tenho denunciado sempre aos órgãos municipais e estaduais responsáveis pelo cumprimento das leis de garantia dos direitos dos deficientes e sua fiscalização, bem como a entidades privadas que se interessam e cuidam do assunto, sem nenhum efeito, sem qualquer consequência.
Tudo isto é deplorável, inimaginável, quando, já no Século XXI, a Organização das Nações Unidas celebra trinta e seis anos da Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes, da qual o Brasil é signatário. E anunciamos que nosso País possui uma Constituição denominada “Cidadã” e tantas leis que proclamam e “garantem” os direitos de milhares de deficientes físicos, cadeirantes, cujos preceitos e ordens são cotidianamente ignorados e não cumpridos, numa vergonhosa demonstração de cidadania esmagada.

22.8.09

POBRE BOB DYLAN

Sábado, 23 de julho de 2009. Bob Dylan foi confundido com um mendigo na cidade de Long Branch, no Estado de Nova Jersey, EUA. O episódio, porém, só ganhou destaque na imprensa internacional, quase um mês depois, no dia 15 de agosto. Chovia forte, quando o músico resolveu fazer sozinho uma caminhada. (Imagine, cara leitora e caro leitor, o bardo do rock com o seu visual característico: o cabelo alvoroçado e a barba por fazer debaixo de um temporal.) Ele deixou o seu trailer, que se encontrava estacionado próximo aos ônibus que transportavam a equipe de sua atual turnê, além de seus músicos. Nesse mesmo dia, ele faria um show na cidade, mas antes disso, houve o imbróglio.No trajeto de sua caminhada, ao ver uma casa, onde havia escrito em uma placa “Vende-se”, Bob Dylan entrou no imóvel sem avisar ninguém. A invasão assustou os moradores da residência, que chamaram a polícia. “Um homem velho excêntrico”, assim foi descrito o sujeito ao telefone por um dos moradores.Kristie Buble, uma policial, de 24 anos, fazia uma ronda perto do local e rapidamente chegou ao endereço. Abordado pela policial, o veterano do rock, de 68 anos, contou que procurava uma casa para comprar. Quando ele se identificou e disse a ela que o seu nome era Bob Dylan, a jovem autoridade não acreditou, achando que fosse uma brincadeira. Kristie decidiu, então, entrar no jogo do “falso Bob Dylan”.- OK, Bob, então diga o que você está fazendo nessas redondezas?Dylan prontamente respondeu:- Estou fazendo uma turnê por aqui, junto com o Willie Nelson e o John Mellemcamp.Foi, nesse exato momento, que ela o deteve por atitude suspeita. O mal entendido acabou sendo esclarecido na delegacia.Em uma entrevista à rede TV ABC, a policial explicou que “ele estava rondando uma casa sob uma chuva torrencial. Isso é muito estranho”. Kristie Buble afirmou ainda que já tinha visto fotos de Bob Dylan, mas “aquele homem não se parecia nem um pouco com ele”. A ABC também informou que o cantor poderia estar tentando achar a casa onde Bruce Springsteen, que nasceu em Long Branch, compôs “Born to Run”, faixa-título de seu álbum, de 1975.Atualmente, em turnê pelos EUA, Bob Dylan promove o seu mais recente álbum de estúdio, “Together Trough Life”, lançado em abril de 2009. Foi o seu primeiro trabalho a alcançar o número um na parada britânica de discos, após trinta e nove anos de jejum, quando “New Morning”, de 1970, chegou também ao topo no Reino Unido. Com isso, o “homem velho excêntrico” conseguiu um feito duplo: o primeiro, o de ser o artista mais velho a atingir essa posição. Na época, Dylan tinha 67 anos e 11 meses. Até então, o posto era de Neil Diamond, que, em 2008, lançou “Home Before Dark” e estava com 67 anos e 4 meses.O segundo, o seu álbum, “Together Trough Life”, lhe deu a marca de álbuns com maior distância entre si a conquistarem o lugar mais alto na parada inglesa. (Trinta e nove anos, conforme mencionado acima). Este recorde pertencia a Tom Jones, que ficou trinta e um anos, entre 1968 e 1999, sem ocupar a primeira posição. Em 1968, com “Delilah” e, em 1999, com “Reload”.

20.8.08

“BRAINWASHED”: O ÚLTIMO ÁLBUM DE GEORGE HARRISON

Último álbum de George Harrison, "Brainwashed" (EMI/Dark Horse) foi lançado a 18 de novembro de 2002, na Inglaterra. O álbum tem duas versões: uma versão-padrão com um CD, e uma versão limitada com um CD e um DVD. O CD traz doze faixas, onze delas compostas por Harrison. A outra é um cover. O lançamento de “Brainwashed” acabou com um jejum de quinze anos, pois o último trabalho com material inédito dele, “Cloud Nine”, ocorreu em 1987. A demora do ex-Beatle para aprontar um novo disco não se deve somente à sua luta contra o câncer, mas, também, ao seu desinteresse em compor e a sua desilusão com a indústria fonográfica. As sessões de gravação aconteceram na Inglaterra, nos Estados Unidos, na Austrália e na Suíça, país este onde foi gravada boa parte do álbum. Elas tiveram o seu início em 1999 e continuaram até poucos meses antes de George morrer, a 29 de novembro de 2001. Todas as faixas de “Brainwashed” estavam em estágio bem adiantado, praticamente prontas. Harrison já havia registrado o vocal, os violões, as guitarras e o baixo em algumas músicas. O baterista Jim Keltner também adicionou a bateria em sete músicas. A vontade de George Harrison era que as músicas soassem como demos, tivessem uma sonoridade crua. No entanto, Jeff Lynne, que produziu o álbum ao lado de Dhani, filho de George, explicou: “Essas canções mereciam mais do que isso porque elas são ótimas. Eu as poli um pouco mais do que talvez ele teria desejado. Então, me desculpe George. Eu acho que eu apenas fiz justiça a essas músicas”. Lynne é um velho amigo de George Harrison, os dois integraram o célebre grupo Traveling Wilburys, no final da década de oitenta. Ele produziu também “Cloud Nine”, disco já mencionado acima.

Anotações detalhadas feitas por George, de como ele queria concluir as suas músicas, foram deixadas por ele nas mãos de Dhani. Já lhe passava pela cabeça a idéia de não estar mais vivo a tempo de finalizar “Brainwashed”. Por isso, coube a Jeff Lynne e a Dhani Harrison a tarefa de dar um acabamento às músicas. Em “Brainwashed”, há três músicas conhecidas pelos fãs: “Run So Far” (faixa 8), “Between The Devil And The Deep Blue Sea” (faixa 10) e “Rocking Chair In Hawaii” (faixa 11). “Run So Far” está presente no disco “Journeyman”, de Eric Clapton, de 1989. Além de ceder a sua música, Harrison, na ocasião, dividiu os vocais com o amigo Clapton e também tocou guitarra. A gravação de George, agora em seu álbum, é praticamente igual, mas sem a participação de Eric Clapton. “Between The Devil And The Deep Blue Sea”, lançada originalmente em 1932, é de autoria de Harold Arlen e Ted Koehler. O primeiro compôs “Over The Rainbown”, do filme “O Mágico de Oz.” Harrison já havia cantado essa música no programa de televisão “Mr. Roadrunner”, de Jools Holland, em junho de 1992. O pianista Jools Holland está no baixo e o experiente músico de estúdio inglês Herbie Flowers toca tuba em “Between The Devil And The Deep Blue Sea”. “Rocking Chair in Hawaii” aparece em uma versão country nas sessões de gravação do disco triplo “All Things Must Pass”, de 1970. Porém, a música não foi incluída naquele álbum. Em 2001, Harrison resolveu aproveitá-la em “Brainwashed”, dando-lhe uma roupagem mais sofisticada e suave.

“Any Road”, a faixa que abre o álbum, é um tipo de folk. E, na letra, George filosofa: “If you don’t know where you going / Any road will take you there” (Se você não sabe onde vai / Qualquer caminho o levará lá). George Harrison a escreveu em sua casa no Havaí, debaixo de uma bananeira no jardim, enquanto esperava a equipe de filmagem para a realização do videoclipe da música “This Is Love", do álbum “Cloud Nine”. Em “P2 Vatican Blues” (“Last Saturday Night”) (faixa 2), com a sua levada blues, o guitarrista-solo dos Beatles critica a Igreja Católica, talvez, influenciado pelos sucessivos escândalos sexuais envolvendo padres e crianças nos últimos anos. Em algumas faixas do álbum, George Harrison é autobiográfico. Revela um pouco de seu cotidiano na batalha contra o câncer em “Pisces Fish” (faixa 3), onde, nos versos, ele diz:: “Sometimes my life it seems like fiction / Some of the days it’s really quite serene” ("Algumas vezes a minha vida parece ficção / Mas outros dias ela é um cenário totalmente real"). Em ”Looking For You” (faixa 4), o ex-Beatle continua encarando a realidade de frente. Sombria realidade. Em dezembro de 1999, George e sua mulher, Olivia, sofreriam um atentado à facadas, em casa, na Inglaterra. Harrison lutou contra o agressor, que lhe desferiu golpes de faca no tórax. O intruso foi contido, quando Olivia lhe atingiu com um abajour na cabeça.

Apesar dessas circunstâncias adversas, “Brainwashed” não é um álbum com uma mensagem pessimista. George Harrison foi realista sem perder o bom humor e a fé, a esperança e o otimismo. Seguidor do hinduísmo desde os anos sessenta, era um homem fiel às suas convicções. Acreditava na eternidade da alma e que a morte não era o fim do caminho e, sim, uma nova etapa da vida. George Harrison reafirma estas suas crenças em “Rising Sun” (faixa 5), uma canção na qual Jeff Lynne adicionou overdubs e violinos ao fundo, sem contar com a slide guitar de Harrison, que surge no início e no meio da canção. George Harrison foi, disparado, o melhor guitarrista slide de sua geração e um dos melhores da história da música. Tornou esse estilo de tocar guitarra a sua marca registrada. O slide é uma maneira de tocar guitarra no qual o músico desliza a paleta sobre as cordas do instrumento, onde um tubo fica preso. Em “Marwa Blues”, uma faixa instrumental (faixa 6), Harrison mostra todo o seu talento no slide guitar. Aliar técnica e emoção - eis os requisitos fundamentais para um guitarrista ser bom. George Harrison sempre conseguiu isso com perfeição. “Marwa Blues” abre o DVD, que mostra apenas um pouco o making of das sessões de gravações de “Brainwashed”. “Stuck Inside A Cloud” (faixa 7) é a música de trabalho do álbum e a mais pop de todas. Foi a primeira a ir para as rádios. Ela é simples, mas tem uma melodia cativante, enfeitada pelos solos slides de Harrison. Se “Rising Sun” nos transporta para os anos sessenta, a romântica “Never Get Over You” (faixa 9) nos remete à década de setenta, quando Harrison costumava compor baladas desse mesmo nível.

“Brainwashed” (faixa 12) é a faixa-título e encerra o álbum. Nela, ele critica abertamente o mundo atual, o tipo de vida e a importância excessiva que o homem dá ao material. Harrison esculhamba a mídia, a Internet, o telefone celular, o sistema educacional, o show business, enfim, critica tudo que ele achava errado ou inútil em nosso mundo consumista, mesquinho e egoísta. No final de “Brainwashed”, uma jovem lê um trecho do livro “How To Know God” (“Como Conhecer Deus”) e, em seguida, George e Dhani entoam um antigo e popular canto indiano chamado Namah Pavarti. Além de Harrison, o seu filho Dhani, Jim Keltner e Jeff Lynne, outros músicos também participaram das gravações de seu álbum, são eles: Jon Lord, ex-integrante do grupo Deep Purple, e Jools Holland, ambos ao piano; o veterano Ray Cooper na bateria; Joe Brown no violão; Sam Brown no backing vocals; Mike Moran e Marc Mann nos teclados. Na faixa-título, Bikram Ghosh toca tabla (um instrumento indiano) e Jane Lister aparece na harpa.

27.9.07

CAVERN CLUB (antes da fama)

Muito antes dos Beatles se tornarem a sua atração principal no horário do almoço em 1961, o prédio onde se instalaria o futuro Cavern Club já fazia barulho em Liverpool. Alan Sytner, filho de um médico da cidade, encantado com um clube de jazz que viu em Paris chamado Le Caveau, pediu para o pai comprar aquela casa de vinhos, na Mathews Street, imóvel onde se instalaria, no futuro, o Cavern. O imóvel era apenas mais um depósito da Mathew Street, uma rua repleta de depósitos de peixes, frutas, legumes e vinhos. Há um movimento grande, durante o dia, naquela região porque os comerciantes de Liverpool usam os depósitos para guardar suas mercadorias. Sytner adquiriu o imóvel em 1957 e o reformou nos moldes do clube de jazz francês. Durante a Segunda Grande Guerra, os porões daquela adega serviram de abrigo à população, contra os bombardeios alemães.A inauguração do Cavern Club aconteceu em 16 de janeiro de 1957, com a apresentação da banda de jazz local, Merseysippi. Ironicamente, no jazz club, ex-adega, era proibido vender bebidas alcoólicas, e os músicos e a platéia iam durante os intervalos, beber um trago, do outro lado da rua. Os grupos de skiffle (tipo de música difundido no norte da Inglaterra nos anos 50) aproveitavam esse intervalo para se apresentarem. Os shows dos grupos de skiffle atraíam um número cada vez maior de adolescentes. Um fato não surpreendente, pois a cidade contava com mais de trezentos conjuntos em 1957. Os Quarrymen (o embrião dos Beatles), Gerry and Pacemakers, Rory Storm & Hurricanes, Swinging Blue Jeans estavam entre eles. Apesar disso, o Cavern manteve- se como um reduto do jazz que era considerada uma música nobre, elevada, de bom gosto. Ao contrário, dos “rocks pobres, barulhentos e desprezíveis” que os “conjuntinhos” de skiffle costumavam tocar.Em 7 de agosto de 1957, os Quarrymen, grupo que John Lennon formou com os seus amigos de escola, tocaram lá, apresentando músicas de Elvis Presley. Depois desta apresentação, receberam um bilhete de Alan Sytner com o seguinte recado: “Descartem esse rock’n’roll sangrento”. Mas, o castigo não demorou muito. Alan Sytner, o proprietário do distinto Cavern Club, passou o comando da casa para o seu pai. Alan foi morar em Londres, onde se casou. No entanto, o pai dele teve que vendê- lo em 1959 por causa da concorrência de uma nova casa de jazz, a Madri Grass Jazz Club. O novo dono do Cavern, Ray McFall, era o contador de Sytner. Ele, então, virou o disco. Trocou o refinado som do jazz pelo som áspero e cru da garotada do skiffle.

27.2.07

O espetacular sonho de amor de George Harrison

As corridas de Fórmula 1 eram uma das grandes paixões de George Harrison e de Guy Laliberté, um dos fundadores do Cirque du Soleil. Eles se conheceram no Grande Prêmio de Montreal, no Canadá, em 1995, e se tornaram grandes amigos. Laliberté era uma espécie de anfitrião do GP canadense e costumava organizar jantares. Em uma dessas ocasiões, Harrison assistiu uma apresentação e voltou para casa maravilhado com o que viu. Em 1999, ele contou a Laliberté que sonhava em ver um dia um espetáculo do Cirque du Soleil, tendo os Beatles como tema principal. Um dos últimos encontros entre George Harrison e Paul McCartney foi justamente para assistir a um show da companhia de circo canadense em Las Vegas, nos Estados Unidos. Em junho de 2000, houve uma reunião entre George Harrison, Paul McCartney, Ringo Starr, Yoko Ono e Guy Laliberté, na qual este propôs aos quatro a criação de um espetáculo feito pelo Cirque du Soleil que tratasse dos Beatles. A proposta foi aceita. O caminho do sonho de Harrison estava aberto. Mas, infelizmente, ele não acompanhou nenhuma das etapas de trabalho para a realização do espetáculo, batizado de “Love”. George Harrison morreu em 29 de novembro de 2001, aos 58 anos de idade, após uma batalha de quatro anos contra o câncer.

Guy Laliberté conversou com o diretor de criação Gilles Ste-Croix sobre a idéia do show. Planos começaram a ser discutidos. Dominic Champagne foi designado para escrever e dirigir “Love”. A Apple, empresa que cuida dos negócios Beatles, atribuiu ao produtor musical do grupo, George Martin, a tarefa de fazer a trilha sonora, com uma hora e meia de duração, do espetáculo. Ste-Croix afirmou que as cenas de “Love” exploram o conteúdo das canções dos Beatles que, segundo ele, “se encontram na realidade e no imaginário das pessoas”. Já Champagne disse que “quis criar uma experiência com os Beatles, ao invés, de contar cronologicamente a história deles, levando a platéia a uma viagem de emoções”.

Em março de 2003, George Martin começou a trabalhar na trilha sonora de “Love”. Apesar de ele já ter declarado estar aposentado, o convite foi irrecusável. A sua audição está ruim já há algum tempo e o quinto beatle, como é conhecido, completou 81 anos em 3 de janeiro de 2007. A Apple só lhe exigiu uma coisa: que, nada além das músicas dos Beatles, material gravado ou inédito, poderia ser utilizado na trilha sonora. O desafio estava lançado. Como criar algo novo usando a irretocável obra dos Beatles? Para auxiliá-lo nessa empreitada, que durou três anos para ser concluída, George Martin chamou o seu filho, Giles. Ambos tiveram à sua disposição todos os tapes originais gravados pelo quarteto de Liverpool nos estúdios da Abbey Road, em Londres. A linha mestra para a criação da trilha sonora de “Love” surgiu da cabeça de Giles, que começou a fazer experimentações com as faixas, colocando, por exemplo, a instrumentação da música “Tomorrow Never Knows”, do álbum “Revolver”, em “Within You Without You”, canção de George Harrison composta para o “Sgt. Pepper’s”. Essas misturas sonoras deram outros bons resultados, como “Octopus’s Garden”, do álbum “Abbey Road”, que tem o vocal de Ringo e, ao fundo, os arranjos de violino de “Good Night”, do Álbum Branco. Os primeiros acordes de violão de “Blackbird” se juntaram aos primeiros acordes de violão de “Yesterday” e deu certo. Várias canções dos Beatles se juntaram naturalmente umas às outras em combinações perfeitas. Algo semelhante a uma costura. Houve, o que facilitou os trabalhos de pai e filho, a utilização de uma técnica denominada “mash-up”, que em português, significa colagem. Os fãs mais velhos dos Beatles perderam o sono, quando as primeiras notícias revelaram que a trilha sonora de ”Love” seria uma colagem sonora. Eles imaginaram que haveria as manobras de algum DJ ou outros sons, como o de uma bateria eletrônica programada, incorporados as músicas do grupo. Porém, a afirmação de George Martin, de que “a essência da música dos Beatles permaneceria intacta” os deixou mais tranqüilos. Ainda assim, muitos veteranos desdenharam de “Love”. Diferentemente de Paul, Ringo, Yoko e Olivia, que além de supervisionar todos os remixes, não fizeram nenhuma censura ao trabalho da dupla de produtores. Um momento de tensão ocorreu quando a viúva de George Harrison, Olivia, ficou temerosa ao ceder a demo de “While My Guitar Gently Weeps”, onde George Harrison, sozinho, se acompanha ao violão. Ela achava a versão da música muito intimista para ser colocada no show do Cirque du Soleil, diante de grandes platéias. Mesmo que, nos anos 90, Harrison tenha autorizado a sua inclusão no CD duplo “Anthology 3”. Ele era muito rigoroso com as suas canções. A apreensão de Olivia diminuiu, quando o produtor George Martin, acatando uma sugestão de Giles, fez um arranjo de violinos para a demo de “While My Guitar Gently Weeps”. A delicada tarefa deixou o experiente quinto beatle nervoso, porque ele sabia da resistência da viúva. Mas, no final de tudo, Olivia aprovou a nova versão da música, a classificando de “absolutamente apropriada, respeitosa e genial”. Dhani, o seu único filho com o ex-Beatle, pediu também que a mãe liberasse a utilização da música de seu pai. Os frutos dessa jornada estavam sendo tão bons que, logo, George e Giles Martin perceberam que a trilha sonora de “Love” resultaria inevitavelmente em um álbum. Em 2 de outubro de 2006, a Apple anunciou o lançamento do CD, que também se chamou “Love”. Na Inglaterra, ele chegou às lojas em 20 de novembro de 2006, e nos Estados Unidos, no dia seguinte. O álbum apresenta vinte e seis faixas em som estéreo. A edição especial do CD vem com um livreto de vinte e oito páginas e um DVD áudio em mixagem 5.1. Este DVD tem oitenta e um minutos, em números redondos, três minutos a mais que o CD. Não há imagens contidas nele. É a primeira vez que as músicas dos Beatles são apresentadas no formato 5.1, um sistema de áudio com seis canais. Embora, em 1999, o DVD “Yellow Submarine” tenha sido restaurado e relançado, utilizando o áudio 5.1, ele não pode ser considerado um trabalho eminentemente musical, como é o caso do DVD de “Love”, por se tratar de um desenho animado. A edição simples de “Love” traz apenas o CD. Outra explicação: se “Love”, o espetáculo do Cirque du Soleil sobre os Beatles, dura noventa minutos, então por que o CD tem setenta e oitos minutos? Porque no álbum os diálogos do grupo em estúdio, presentes no show, foram retirados.

“Love”, o show, está em cartaz no Mirage Hotel, em Las Vegas. O orçamento dessa produção da Apple em parceria com o Cirque du Soleil gira em torno de cento e cinqüenta milhões de dólares. O elenco conta com sessenta artistas. O teatro do hotel foi especialmente reformado para abrigar “Love”. Lá, foram instaladas 2.013 poltronas, com três alto-falantes acoplados a cada uma. Um situado na frente do assento e os outros dois alto-falantes ficam, cada um, nas duas laterais. O som é tão perfeito que o espectador tem a sensação que os Beatles estão no palco. Há também dois telões de alta definição. A expectativa da administração do Mirage é que o show permaneça lá, no mínimo, por dez anos. O diretor do show Dominic Champagne e George Martin conversaram e trocavam opiniões constantemente sobre as cenas de “Love”, sobre qual seria o melhor remix para uma determinada cena, assim como um remix poderia servir de inspiração para a construção de uma seqüência do espetáculo.

A música dos Beatles é o tema principal de “Love”. A pré-estréia de gala do show aconteceu na noite de 30 de junho de 2006 e houve duas apresentações exclusivas para mais de quatro mil convidados especiais. Amigos e parentes dos Beatles. Paul McCartney, Ringo Starr e a sua esposa Barbara Bach, George Martin e a sua esposa Judy e as viúvas de John Lennon e George Harrison, Yoko Ono e Olivia Harrison, respectivamente. Esta última estava na companhia de seu filho, Dhani. Todos eles prestigiaram a pré-estréia de “Love”. Um evento raro e histórico, principalmente depois de 1970, ano em que os Beatles se separaram. Após essa data, pouco se viu dois ou três ex-Beatles juntos, em público. Muita gente intimamente ligada a eles compareceu: Cynthia, a primeira mulher de John Lennon, e o filho deles, o cantor Julian; o fotógrafo e cantor Mike McCartney, irmão de Paul; John Eastman, irmão de Linda, a primeira mulher de Paul McCartney, que morreu em 1998; Peter Asher, da dupla musical Peter & Gordon, famosa nos anos sessenta; (Peter é o irmão de Jane Asher, uma atriz de teatro com quem Paul teve o seu primeiro namoro sério); Jeff Lynne, ex-Eletric Light Orchestra, que produziu “Free As A Bird” e “Real Love”; o diretor da Apple, Neil Aspinall; e dois grandes amigos de George Harrison, o citarista indiano Ravi Shankar e Eric Idle, do grupo humorístico The Rutles. Os membros da nona formação da All-Starr-Band, grupo que acompanha Ringo Starr em suas turnês, também estavam lá. São eles: Rod Argent, ex-Zombies, o cantor e guitarrista Billy Squier, o cantor Richard Marx, o guitarrista Edgar Winter, o baixista Hamish Stuart e a baterista Sheila E. Presentes, ainda, o guitarrista Rusty Anderson, o tecladista Paul ‘Wix’ Wickens e o baixista e guitarrista Brian Ray, atuais integrantes do grupo de Paul McCartney.
Confira os nomes de outros vips: o eterno Beach Boy Brian Wilson, o ex-baterista do The Doors, John Densmore, o cantor Tony Bennett, o pop star dos anos oitenta, Prince, o vocalista do Velvet Revolver, Scott Weiland, a cantora Roberta Flack, o ex-líder do Mean To Work, Colin Ray, a viúva do cantor Roy Orbison, Barbara Orbison, o ex-integrante do Eurythmics, Dave Stewart, entre outros nomes.

20.12.06

A primeira visita dos Beatles aos EUA

Paul com a família do sargento Buddy Bresner

Ainda que as câmeras dos irmãos Albert e David Maysles tenham registrado todos os passos dos Beatles nos quatorze dias que duraram a sua primeira e histórica visita aos Estados Unidos, em fevereiro de 1964, como o primeiro grupo inglês a fazer sucesso na terra natal do rock, muitos fatos interessantes e personagens importantes ficaram em segundo plano. Relatarei alguns a seguir.

Durante o vôo entre Londres e Nova Iorque, em 7 de fevereiro, dia da chegada dos Beatles aos Estados Unidos, empresários enviavam bilhetinhos para Brian Epstein, tentando conquistar o interesse do empresário dos Beatles, a fim de associar o nome de seus negócios ao nome do grupo. Tentativas fracassadas. Epstein desprezou todos os recados. Ao desembarcar da aeronave da Pan American, cada passageiro ganhou de presente um kit Beatle, uma cortesia da gravadora Capitol, que continha uma foto autografada pelos quatro Beatles, um adesivo com a frase "I like the Beatles" e uma peruca Beatle. Era a primeira vez que Cynthia aparecia publicamente como mulher de John Lennon.

Na manhã do dia seguinte, 8 de fevereiro, John, Paul e Ringo realizaram uma sessão de fotos no Central Park com o fotógrafo Dezo Hoffman. George Harrison ficou no Plaza Hotel por causa de uma dor de garganta. Sua irmã, Louise, que mora ainda hoje na pequena cidade de Benton, viajou até Nova Iorque para cuidar do irmão caçula. No início da tarde, os Beatles fazem, sem a presença de Harrison que foi substituído por Neil Aspinall, assistente pessoal do quarteto, o primeiro ensaio para primeira apresentação deles no programa de TV "The Ed Sullivan Show", no dia 9 de fevereiro. Durante toda a estadia dos Beatles nos Estados Unidos, coube ao DJ Murray the K guiá-los pelas boates da moda de Nova Iorque e de Miami. Eles conheceram a Peppermint Lounge, a de Nova Iorque e a de Miami, e também, o Playboy Club, de Nova Iorque. Indagado por um repórter em Washington sobre “que diabos Murray the K está fazendo aqui?”, George Harrison respondeu: “Murrray é o quinto beatle”. O DJ começou a usar o título de “quinto beatle” em suas intervenções na Rádio 1010 WINS, o que irritou Brian Epstein à primeira vista, mas, posteriormente, ele entendeu que isso ajudaria ainda mais a promover os Beatles. Nos dois shows que os Beatles realizaram no Carnegie Hall, em Nova Iorque, no dia 12 de fevereiro, Murray the K fez as honras da casa antes do show do quarteto.

Devido a uma tempestade de neve, os Beatles acharam melhor viajar de trem para Washington, onde eles subiram no palco pela primeira vez em território americano, no dia 11 de fevereiro, no Washington Coliseum. O mau tempo fez com que eles se lembrassem do acidente aéreo que matou o roqueiro texano Buddy Holly, seis anos antes, mais precisamente, no dia 3 de fevereiro de 1959. Holly era uma das maiores influências deles, sobretudo de John e Paul. Em Washington, o grupo e sua equipe de funcionários se hospedaram no Shoreham Hotel, onde o sétimo andar inteiro fora reservado exclusivamente para eles. Todos os hóspedes do andar concordaram em se mudar para outro andar, com exceção de uma família, que se negou a sair. Então, um integrante da equipe dos Beatles teve uma idéia: cortou a luz, a água e o aquecimento do apartamento da distinta família. Aí eles se viram obrigados a aceitar a transferência de andar por conta “da queda de energia”.

Em Miami, o grupo fez a sua segunda apresentação ao vivo no programa de TV de Ed Sullivan, no dia 16 de fevereiro, no próprio Deauville Hotel, onde estavam hospedados. O sargento Buddy Bresner, especialista em cuidar da guarda pessoal de artistas, acompanhou os Beatles pela cidade e até os convidou para um jantar em sua casa, no dia 14 de fevereiro, ao lado de sua mulher, Dottie, e seus três filhos pequenos. A paciência e o carinho de Paul McCartney com as crianças foi espantosa, porque elas não o largaram por um segundo. O sargento levou os Beatles, entre outros lugares, a um drive-in para assistir o filme "Fun In Acapulco", de Elvis Presley. No dia 18 de fevereiro, os rapazes de Liverpool conheceram o boxeador Cassius Clay (que quando se converteu ao islamismo, passou a se chamar Muhammad Ali) no centro de treinamento, no qual ele se preparava para lutar contra Sonny Liston pouco dias depois. Clay venceu o duelo e, pela primeira vez, conquistava o cinturão da categoria dos pesos pesados. Após o encontro com os Beatles, Cassius Clay comentou: “Eles são legais, camaradas. O sucesso não subiu a cabeça deles.” Os Beatles passaram uma semana em Miami, de 13 a 21 de fevereiro, dia em que retornaram para Londres.

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A gravadora Restless Records lança, a 24 de outubro de 2006, "Butchering The Beatles", um CD com nomes consagrados do heavy metal interpretando doze canções dos Beatles. Elas evidentemente ganharam uma roupagem mais pesada. Podemos ouvir Alice Cooper atacando em "Hey Buldog", Billy Idol em "Tomorrow Never Knows", John Bush (do Anthrax) em "I Feel Fine", John Corabi (do Motlley Crue) em "I Saw Her Standing There", entre outros. Todos eles são acompanhados nas gravações por outros grandes músicos do heavy metal. Este tributo dos metaleiros aos Beatles foi produzido pelo guitarrista Bob Kulick e pelo engenheiro Brett Chassen.

Guitarrista do grupo Strokes, Albert Hammond Jr. lança o seu primeiro álbum solo. "Your To Keep" conta com dez faixas e chega às lojas no dia 9 de outubro de 2006. Sean Lennon é um dos convidados especiais que participam do álbum do guitarrista.